‘A Noite do Dia 12’: quem matou Clara?
“A Noite do Dia 12” é um premiado filme francês baseado em uma história real dirigido por Domink Moll. Ele também assina o roteiro, inspirado no livro de Pauline Guéna, ao lado de Gilles Marchand. Geralmente, quando falo de um filme, explano mais sobre a direção, atuações, enfim, sobre o filme de maneira geral, mas dessa vez não venho fazer uma resenha dessas.
Clara está na casa de uma amiga quando decide ir embora a pé sozinha. Entretanto, ela nunca chega à sua residência, pois é queimada viva. A partir daí, acompanhamos o suspense que se torna a obsessão do investigador que acabara de se tornar chefe naquela mesma noite. O longa aborda não só o feminicídio como tema central, mas a misoginia, o pré-julgamento da investigação policial e o fato de mulheres sexualmente livres merecerem a morte.
Fiquei refletindo muito após assistir ao filme. Lembrei-me do meu podcast Dark Tapes, de seu papel na sociedade e do motivo pelo qual eu o havia idealizado. Assistir ao filme “A Noite do Dia 12” reacendeu em mim uma chama que nunca se apagou, mas que estava bem baixinha nos últimos tempos.
Alerta de spoiler!
O desfecho do crime é inconclusivo. Não sabemos quem é o assassino. Ninguém é punido. Não há provas suficientes. Há empenho. Veja bem, o investigador responsável faz tudo o que está ao seu alcance, inclusive lutar contra o patriarcado instalado em seu ambiente de trabalho. Discute com amigos, tenta mostrar que o fato de Clara ter muitos amantes não a torna merecedora de um banho de gasolina acompanhado de um isqueiro e a morte iminente. Contudo, nada disso adianta.
Ao sair do cinema, senti-me completamente frustrada. Como alguém que consome true crime, minha cabeça logo começou a fazer sinapses para tentar ligar algum personagem ali apresentado ao crime. Tentando encontrar a solução que a própria polícia não encontrou. Criando dentro de mim um sentimento de impotência que sinto praticamente todos os dias ao ler notícias sobre a morte de mulheres, a falta de punição, o apoio aos criminosos, a falta de justiça. Não trarei dados aqui, pois eles fazem doer ainda mais.
Clara é uma personagem fictícia, baseada em uma personagem real que poderia ser qualquer uma de nós. No fim, a frase que resume o filme é uma das falas nele reproduzidas: “Sabe por que Clara foi assassinada? Eu te digo. Clara morreu porque ela era uma mulher.”