personagens joel e ellie da série the last of us

The Last of Us: é sobre apreciar a jornada

Que The Last of Us se tornou uma febre, todos sabemos. Agora, que alguém consegue criticar por não ter suas expectativas correspondidas é de matar. Antes de continuar, cuidado com spoilers!

Hoje, uma quinta-feira pós-carnaval em que eu acordei muito melhor do que vinham sendo vários dias de crise de ansiedade, um amigo manda em nosso grupo no whatsapp uma crítica a The Last of Us. Era a crítica de um grande site de entretenimento e não demorou muito para a dor no estômago voltar (brincadeiras à parte, que bom que era um dia melhor do que os demais porque ler cada linha da “crítica” foi um sacrifício enorme).

Veja bem, no título já diz que é um desabafo, mas a autora se declara uma pessoa sã em meio a uma legião de fãs. Cegos talvez? Visto que ela é a única que enxerga os problemas da série? Uma “mulher do médico” de José Saramago, não é mesmo? – Por favor, leia “Ensaio Sobre a Cegueira“, já fica a dica aqui porque sou dessas. E tal declaração me fez querer defender tanto a série que cá estou eu. Afinal, sou uma das pessoas que ela diz ser “surreal” não concordar com ela.

Uma pequena pesquisa cairia bem

Quando alguém diz que o amor pela série só pode vir de gamers, amigos de gamers ou pessoas que tenham alguma familiaridade com a história, nunca conversou comigo (aloka). Brincadeira. Nunca sequer fez uma pesquisa, pois os números de sucesso da série dizem muito sobre abranger pessoas que nunca nem sequer pegaram em um controle de videogame para conhecer o jogo (inclusive o próprio Pedro Pascal e a Bella Ramsey – muito criticada, por sinal, antes da estreia, mas que calou a boca de todos, amém).

The Last of Us foi a segunda melhor estreia desde 2010 na HBO, ficando atrás apenas de House of the Dragon, mas nem isso a abala, pois ela já superou a audiência do spin-off de Game of Thrones. Além disso, é a série da HBO mais bem avaliada no Rotten Tomatoes e, pasme, tem impulsionado a venda dos jogos ().

Outra pesquisa que cairia bem seria a crítica quanto ao tão aclamado episódio 3 de Bill e Frank. História completamente diferente do jogo e que não foi nem um pouco aprofundada, no entanto que um dos personagens é apenas citado em uma carta no game.

Falta referência

Quanto à declaração sobre a série se aprofundar tanto em um personagem e, na sequência, matá-lo, parafraseando minha amiga Analu “pessoa nunca leu Stephen King, claramente”. Não só SK, como outros clássicos do horror e da cultura pop, seja nas páginas ou telas.

Ainda, de acordo com a crítica, a história não nos leva a lugar algum, tudo é apresentado e resolvido imediatamente e abandona a ciência. Ó céus. Aqui, depois de alguns parágrafos, começa a minha defesa de fato.

Precisava mesmo conhecer a história antes?

Se eu fosse apresentar a série para alguém hoje, em que estamos no sexto episódio e, possivelmente, acabamos de perder o Joel, eu diria: é uma série sobre conexão humana e a jornada de personagens em um ambiente apocalíptico, em que a esperança os deixou e o amor é tudo o que lhes restou.

Eu também não conhecia a história antes e não precisei de nada além do que foi apresentado para me apegar àquelas vidas e me colocar no lugar daquelas personagens. É sobre a jornada. É sobre eu não saber quem é Bill e Frank e entender que a história deles foi colocada ali para que pudéssemos continuar acreditando no amor mesmo em meio ao caos. Não me venha com “faltou um foco narrativo claro”. Qual é o foco narrativo claro de histórias de amor se não o próprio sentimento em si?

Arcos de personagens perfeitos

Quando vemos um irmão que faz de tudo para salvar o outro, mas se vê obrigado a matá-lo com um tiro por causa de um fungo que dominou o cérebro da única pessoa que lhe sobrou será que eu preciso de mais tempo para entender a gravidade da situação do que apenas um episódio?

Os arcos das personagens são tão bem definidos que não precisam de mais tempo do que isso. Seria um desperdício. Joel e Ellie encontram pessoas pelo caminho e é por lá que elas vão ficando. É sobre isso (e tá tudo, brincadeira! rs).

O que é marcante senão a interpretação no olhar de um Pedro Pascal no segundo andar de uma casa tentando proteger uma mercadoria da qual ele ainda não tem noção do quanto ama, mas nós já sabemos? Ou então a construção de uma personagem de 14 anos que tem seus maiores medos expostos em apenas uma cena em que está prestes a ser abandonada por quem lhe protegeu até ali (nem preciso dizer que fico de joelhos para a interpretação de Bella Ramsey, né? ok).

A velha história das expectativas

Se nada disso é suficiente porque a pessoa queria ver ciência, não entendo o que pode ser. Não se trata de falta empatia ou emoção de quem assiste e, sim, de compreensão sobre o que se está assistindo e qual é a proposta. “Não é pra mim” seria o suficiente, agora “sou a única sã”, não chega nem perto da qualidade de uma crítica com embasamento poderia ter.

Que fique claro: sempre respeitei a opinião alheia e não acho que existam coisas “boas ou ruins” no sentido do que agrada aos olhos mesmo. Uma obra considerada tecnicamente ruim pode ser apaixonante e uma tecnicamente impecável pode se tornar maçante. O que me incomoda é descontar a própria frustração em qualquer obra. Já dizia o velho ditado: o melhor é não criar expectativas.

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